Thaila Ayala nasceu no interior de São Paulo. Foi um bebê lindo, uma pré-adolescente “feia”, uma jovem “esquisita” (ela que diz, a gente não acredita). Abocanhou papel de destaque na novela Malhação, a lançadora de talentos (e beldades) da Globo. Brigou, ficou na geladeira e só saiu de lá um ano e meio depois para brilhar em Caminho das Índias. “Fiz por merecer. Isso tudo serviu para me trazer maturidade”, diz.
POR CLÁUDIA DE CASTRO LIMA
Ela jura que era o “cão” quando tinha lá seus 13, 14 anos. E que foi seu exotismo – para ela, feiúra mesmo – que chamou a atenção de olheiros de uma agência de modelos em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, cidade onde nasceu e cresceu. Mesmo sem ter muita certeza do que queria, Thaila aceitou um convite para trabalhar em São Paulo e saiu de casa, sem avisar à pobre mãe, que colocou polícia e tudo atrás da menina.
Em São Paulo, morou em favela e passou fome até a carreira deslanchar. Viveu em vários países e acabou fazendo a Oficina de Atores da Globo. De lá foi para Malhação e, da novela, direto para a geladeira do Projac. Tudo porque falava demais. “Era muito jovem, não aguentei a pressão. Reclamava de atrasos, fui muito imatura”, diz.
Hoje, aos 23 anos, ela conta que cresceu e que se sente uma “senhora de 60 anos”. O único hábito que permanece dos tempos de rebeldia é ouvir rock. “Muito alto!”
Você tem cara de sapeca. Foi uma criança arteira?
Eu era levada da breca. Tenho muitas cicatrizes daquela época, muitas mesmo. Meu joelho é pura cicatriz. Eu subia em pé de manga, adorava tomar banho de chuva e de mangueira, pulava o muro quando minha mãe me deixava de castigo...
Verdade que se achava feia?
Não é que eu me achava, eu fui um cão. Nasci linda, era o bebê Johnson. E fui bonitinha até os 6, 7 anos. Mas aí comecei a esticar, o dente começou a cair, e fiquei muito, muito feia. Primeiro fiz o estilo machinho: usava calça big, camisa larga. Depois fiquei mais vaidosa. Aí era a fase de disfarçar a magreza com três calças e sutiã com enchimento.
E você resolveu ser modelo quando ficou bonita de novo?
Não, eu não era modelo bonita. Era aquelas modelos esquisitas. Pensa em mim pela metade: eu tinha a mesma altura, 1,74 m, e era muito, muito magra, tinha 45 kg. Muito branca, magra, olhão e com o cabelo muito preto. Parecia a Mortícia
Ah, você fazia o tipo exótica?
Exótica? Era feia mesmo.
Como você virou modelo então?
Me viram numa casa de forró em Presidente Prudente e falaram para eu ir fazer um book. Comecei a fazer uns trabalhinhos lá mesmo e de vez em quando algumas viagens para São Paulo. Nessas, quatro agências de São Paulo me quiseram. Eu fiquei na Elite. Não foi algo que eu procurei, foi só uma coisa que foi pintando e eu fui aproveitando.
E você veio fugida, né?
Eu dizia sempre para minha mãe: “Tem uma agência querendo que eu trabalhe em São Paulo, eu vou para lá, vai ser dia tal”... Mas para ela era algo tão distante que não acreditava. Chegou a data da viagem, minha mãe estava na casa das minhas avós em Presidente Epitácio, eu fiz as malas e fui. Fiquei uma semana sem dar notícia. Quando liguei, já tinha polícia atrás de mim, tinham dado queixa de desaparecimento, minha mãe estava arrasada. Poderia ter sido diferente, coitada. Mas se não fosse isso eu não estaria aqui.
Em São Paulo houve perrengue?
Todos que você possa imaginar, no melhor estilo Cinderela. De passar fome, não ter onde morar, morar em favela em Diadema e de favor...
Você viajou muito nessa época?
Sim, morei fora também. Minha primeira viagem foi para a Coreia. Eu não sabia nem dizer “hi” em inglês. A aeromoça perguntou: “Chicken or meat?” E eu: “Oi?”. Meu contrato era de três meses. Voltei depois de um. Também fui para o Japão, morei no Chile, em Paris, em Nova York.
Tinha tempo de sair e namorar?
Ih, eu virava a noite na balada e ia trabalhar direto. Sempre fui de aproveitar o agora, fazia tudo o que tinha direito. Saía de segunda a segunda, fazia festas no apartamento. O som era alto, o síndico vinha reclamar, eu pagava multa. Sempre fui bagunceira.
E continua assim?
Hoje eu sou muito mais tranquila. Não consigo mais ficar até tarde em uma festa e trabalhar no dia seguinte. Mas ainda ouço som nas alturas. Os vizinhos reclamam sempre. Gosto de rock and roll. Muito rock e alto. Nirvana, Raimundos, Faith no More, Kings of Leon. Estou viciada na trilha do filme Na Natureza Selvagem.
O que aprendeu como modelo?
Tudo. Aprendi a segurar a onda sozinha, me virar com grana, conheci culturas, vi o que era ter respeito pelas pessoas. Saí de Prudente brincando de boneca. Em São Paulo virei mulher.
Como foi a transição para a TV?
Quando comecei a ficar bonitinha, passei a fazer comerciais. Fiz cursos de teatro e passei em um teste para a Oficina de Atores. Mudei para o Rio de Janeiro e fui fazer um teste para Malhação. Acho que rolou porque eu não contava com isso e fui relaxada. Não nasci para ser testada. Nossa, fico supernervosa.
Na época de geladeira da Globo você ficou parada?
Fiz vários cursos, não parei. Foi um choque. Tinha acabado Malhação e, no fim das produções, rola uma espécie de avaliação de cada ator. O Ike [Cruz, empresário] perguntou de mim, disseram que eu tinha tudo o que a Globo precisava, carisma e tal, mas que eles não estavam a fim naquele momento. Fiquei bem desanimada, pensando em mudar de área. Mas aí rolou Caminho das Índias. Hoje penso que, se não tivesse passado por isso, não teria amadurecido tanto.
A fama de difícil é verdadeira?
Eu dei motivo para falarem. Brigava, reclamava, batia de frente. Tenho uma personalidade forte, sou teimosa, perfeccionista, tenho opinião, sou ansiosa... Sou ariana, já viu, né?
Você namorou dois quarentões e agora namora o Paulo Vilhena, mais novo. Qual a diferença?
O que eu gosto em homem, não importa a idade, é ele ser maduro. Não gosto de joguinho de moleques, de inseguranças, aquela lengalenga. A maturidade está na cabeça das pessoas. Eu, por exemplo, me acho hoje uma senhora de 60 anos. Tenho chatices, manias, sou conservadora, quero casar, ter família, cozinhar.
Você ficou à vontade nas fotos?
Cara, não. Estava muito insegura. Mas sou amiga do Gui [Paganini, fotógrafo], então fiquei mais tranquila. Tenho momentos de me achar sexy, a mulher que diz que nunca tem está mentindo. Mas no meu dia a dia eu sou um moleque. Falo igual mano, muita gíria, uso calça largada, chinelo, já roubei várias calças do Paulo. Não gosto de calcinha, uso muita cueca.
Quando olha no espelho vê o quê?
Além de uma magrela e uns cambitos? Eu gosto do que vejo. Me acho bonita. Tem dias que acho o nariz enorme, vejo barriga, pele horrível. Mas no geral me acho bonita e sei valorizar o que tenho de melhor.
Quando fez a primeira tatuagem?
Aos 13 anos. Falsifiquei os documentos. Hoje tenho sete. Uma em árabe com os nomes dos meus pais e irmãs, uma língua dos Rolling Stones, um dos primeiros sons que curti. A escrito “love” foi minha primeira tatoo, é no braço, coisa que ninguém tinha. Tenho um peso no pé, fiz com uma amiga, que simboliza que uma coloca a outra no chão. Tenho um “rock’n roll” na cintura, porque acho que rock não é só um estilo de música, e sim de vida. Um “fiel” no meu braço, porque eu sou fiel aos meus princípios, à família e às coisas que eu amo. E agora fiz um terço no pé, que é a minha proteção.
E o Twitter é seu hobby, né?
É, sou viciada. E sou a polêmica do Twitter! Acho um barato pelo contato direto com os fãs. Tenho quase 70 mil seguidores. O gostoso é o retorno imediato. Pode até ser carência, mas é bom. Comento desde bobeira até filmes, CDs, shows e política.
Alguma mulher já te xavecou?
Sou mais xavecada por mulher do que por homem. Não sei se tenho cara de quem gosta, se é minha voz meio de traveca... Uma vez estava em Los Angeles e duas mulheres me seguiram no trânsito, me pararam e me pediram para entrar no carro com elas.
Qual foi a importância de 2009?
Considero 2007 o ano mais importante da minha vida, porque foi o começo como atriz. Mas 2009 foi tão bom quanto. Foi iluminado do começo ao fim. Um presente. Foi algo: “Thaila, você se comportou bem, comeu direitinho, leve 2009 de presente”.
E agora, quais seus planos?
Fiz vários testes e estou esperando. Vou gravar um curta e estou fazendo uma leitura de uma peça. Além disso, estou tocando um projeto meu de conscientização dos maus-tratos contra os animais com o Gui Paganini. Vamos fazer fotos de 12 atrizes e modelos vegetarianas e fazer um livro e 12 quadros para serem leiloados. O dinheiro vai ser revertido para instituições que cuidam de animais. Acho que a gente tem que usar nossa imagem para fazer alguma outra coisa. Para a gente não custa nada.
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